Somos normalmente chamados de racionais.
Nos vestimos bem, temos todo o conforto que queremos, nos alimentamos melhor ainda. Permitimo-nos andar perfumados, de unhas aparadas, cabelos cortados e transitamos por aí em belos carros.
Os irracionais, os outros animais, deveriam nessas condições manter a sua irracionalidade. Afinal, sejam quais forem, cavalos, cães, macacos - esses domesticados ou domesticáveis e os ferozes – leões, tigres, onças – e mais um sem número deles – são extremamente diferentes de nós humanos.
São insensíveis à coerência e ao uso da razão.
Portanto, nós somos os humanos. Humm...humanos, mas em que sentido?
Há poucos dias em um programa de televisão, assisti a uma caçada extremamente interessante. No primeiro momento fiquei chocado. Uma onça observava à distância,  a uma macaca com um pequeno filhote que alimentava, em uma árvore. O felino aguardou pacientemente que a macaca se descuidasse e então a atacou. Trucidou-a, transformando sua presa em seu alimento - de acordo com a lei da sobrevivência entre os irracionais – a lei do mais forte.
Entretanto algo me deixou ainda mais aterrorizado do que aquela triste cena. Logo depois  apareceu no vídeo o filhotinho da macaca, só, trêmulo e indefeso, ao lado de um arbusto. Fiquei traumatizado, esperando o desfecho trágico de mais uma arremetida do animal selvagem, trucidando o macaquinho.
Para minha surpresa, o felino foi chegando, lentamente perto do frágil macaquinho, cheirou-o todo e depois acomodou-se a seu lado, lambendo-o delicadamente.
Fiquei atônito e embevecido com o que acabara de presenciar. Então, são esses os irracionais?
Por vários minutos me coloquei a avaliar aquele comportamento. E me senti muito  triste. Sim, muito triste!
Comecei a lembrar-me então de algumas noticias, manchetes de jornais locais e de outros Estados, recentemente lidas:
“Tarado estupra criança de três anos” - “ Mais um seqüestro relâmpago termina em morte em São Paulo” - e etc. etc. etc.
Noticias que fazem parte hoje de nosso dia a dia... e de nossas vidas. Nós, os racionais!

Urias Sérgio de Freitas