Um pesadelo cruel essa dura realidade
vivida hoje na eterna saudade
que o destino irremediavelmente  traçou.

Ainda que sem qualquer esperança
materializa-se em minha lembrança
tua imagem tão forte ... que comigo ficou.

Será que te surpreendeste deveras, querido irmão,
com a semente maldita que teu corpo abrigava
e qual carrasco cruel, tua vida ceifou?

Ou já sabias dessa terrível chaga
quando ainda  por longínquas plagas,
seus últimos anos passou?

Chegaste aqui triste e amargurado
com boas e más lembranças de um  passado
a que o destino vil, tudo tirou

... na forma de  serpentes, que abrigaste,
... dos muitos  que alimentaste
... d’outros tantos, que tanto amou.

A cada gesto de amor, a cada palavra de carinho,
um deboche, esse escárnio que infecta a ferida,
qual fronte intumescida por coroa de espinhos!

Uma angústia latente, aflorando compulsivamente
em gotas de lágrimas, frementes, sofridas
e finalmente ... o grito da liberdade, no amor pela vida.

Em pouco te transformas porém,em pura felicidade!
Na figura d’alva luz que se descortina
por sobre a copa d’ululantes tucumanzeiros,

onde o sol se põe, ao sabor de fortes ventos,
e nesse refúgio silencioso em gozo de bons momentos,
no fulgir das águas do imenso lago negro.

Ainda que a amargura não se lhe abandonasse totalmente,
Tamanha a chaga aberta em suas entranhas
pelo menos, sua alegria  era muito mais constante,

As rugas, menos sulcadas em seu semblante
E embora com atitudes às vezes estranhas,
vivias dentre nós, feliz e sorridente.

Eis que intempestivamente, nada podendo contê-lo
resolve d’aqui se por e como por encantamento
o fazes, em busca d’outros ares, em último apelo.

E nesse interregno, aos trancos, em seu destino
alvo fácil se torna do carrasco albino
e agora jaz, inerte, na pedra fria, sem mais o sê-lo!

Homenagem a meu querido irmão
morto por erro cirúrgico em Fortaleza em 17/10/2.000