Urias Sérgio

Vivo da esperança de ver o soerguimento da ética e da razão e isso dá-me forças de continuar lutando

Textos

HERÓIS DAS SOMBRAS


Caboclos da terra, sofridos,
que bravamente  resistem,  
ao jugo  e à força misteriosa
da imensa e bela floresta

que impassível,
a dura sobrevivência assiste,
de todos que vivem,
sob sua sombra funesta,

Heróis que não se curvam
às intempéries da natureza,
ainda que a seus pés se escondam,
fartura e  riqueza,

Sem recursos ou armas
que equilibrem a batalha,
nos malefícios das endemias
e na extrema  pobreza.

O sol intenso a queimar-lhes
as frontes durante o  dia,
e os insetos, mutilando-os
já cansados, à noite.

Como se não lhes bastassem
esse injusto e terrível açoite,
lhes podam o direito
de explorar a mata ...

Que de todo, por ser sua,  
deveria o seu uso
inegavelmente ser,  
legitimamente aceito,

por insensíveis  governantes que
lhes tolhem, esses  indiferentes
políticos, por  nós e também,
“de per si”, escolhidos e eleitos.

Caboclos que mesmo sendo heróis,
definham de inanição,
com as entranhas corroídas,
por crônicas verminoses,

E outras tantas e tantas  
doenças tropicais,
sem dúvidas, por nossa culpa,  
seus insensíveis algozes.

Nesse “Paraíso Ecológico”
que a todos encantam,
só lhes é permitido “ viver” a natureza,
nas sinfonias dos pássaros ...

no puro ar que respiram,
no belo firmamento que contemplam,
mas não lhes  satisfazem o sustento,
essa inigualável beleza!

Caboclos que  pelos urros  
das onças são embalados ,
em suas frágeis e toscas cabanas
e que a noite acordam,

na escuridão da floresta,
o sono entrecortado,
por ruidosos guaribas
como se em anárquicas festas,

Que assistem ao envelhecimento
d' árvores centenárias, sem poder abatê-las
e mesmo cultivando outras em seu manejo
não é permitida justa partilha obtê-la.

Que não lhes são legados
o direito a um  destino concreto,
que não vivem a vida,
mas simplesmente vegetam ...

Sem esperanças, sem presente,
sem futuro e sem passado,
e que com seu suor e sangue,
inutilmente a terra regam..

Perdoe-nos pela omissão
de todos nós, pela indignidade
do irresponsável descaso,
pelo romantismo desenfreado,

Pelo egoísmo que nos cegam
e nos fazem, sem os notarmos,
viver cômoda e  confortavelmente
ao vosso lado.

Homenagem ao caboclo amazonense.
Urias Sérgio
Enviado por Urias Sérgio em 18/05/2007


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