HERÓIS DAS SOMBRAS
Caboclos da terra, sofridos, que bravamente resistem, ao jugo e à força misteriosa da imensa e bela floresta que impassível, a dura sobrevivência assiste, de todos que vivem, sob sua sombra funesta, Heróis que não se curvam às intempéries da natureza, ainda que a seus pés se escondam, fartura e riqueza, Sem recursos ou armas que equilibrem a batalha, nos malefícios das endemias e na extrema pobreza. O sol intenso a queimar-lhes as frontes durante o dia, e os insetos, mutilando-os já cansados, à noite. Como se não lhes bastassem esse injusto e terrível açoite, lhes podam o direito de explorar a mata ... Que de todo, por ser sua, deveria o seu uso inegavelmente ser, legitimamente aceito, por insensíveis governantes que lhes tolhem, esses indiferentes políticos, por nós e também, “de per si”, escolhidos e eleitos. Caboclos que mesmo sendo heróis, definham de inanição, com as entranhas corroídas, por crônicas verminoses, E outras tantas e tantas doenças tropicais, sem dúvidas, por nossa culpa, seus insensíveis algozes. Nesse “Paraíso Ecológico” que a todos encantam, só lhes é permitido “ viver” a natureza, nas sinfonias dos pássaros ... no puro ar que respiram, no belo firmamento que contemplam, mas não lhes satisfazem o sustento, essa inigualável beleza! Caboclos que pelos urros das onças são embalados , em suas frágeis e toscas cabanas e que a noite acordam, na escuridão da floresta, o sono entrecortado, por ruidosos guaribas como se em anárquicas festas, Que assistem ao envelhecimento d' árvores centenárias, sem poder abatê-las e mesmo cultivando outras em seu manejo não é permitida justa partilha obtê-la. Que não lhes são legados o direito a um destino concreto, que não vivem a vida, mas simplesmente vegetam ... Sem esperanças, sem presente, sem futuro e sem passado, e que com seu suor e sangue, inutilmente a terra regam.. Perdoe-nos pela omissão de todos nós, pela indignidade do irresponsável descaso, pelo romantismo desenfreado, Pelo egoísmo que nos cegam e nos fazem, sem os notarmos, viver cômoda e confortavelmente ao vosso lado. Homenagem ao caboclo amazonense.
Urias Sérgio
Enviado por Urias Sérgio em 18/05/2007
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